Resenha do Livro “Não Aguento Mais, Não Aguentar Mais” de Anne Petersen: Reflexões e Impactos

Uma análise sobre a relação da geração Millennial com o trabalho, o sucesso, os pais, os filhos e a internet e como todas elas contribuem para o inevitável burnout

Análise do livro: Um olhar sobre a jornada dos Millennials, de Anne Petersen, traduzido por Giu Alonso e publicado pela HarperCollins em 2021

O livro “Não aguento mais não aguentar mais” de Anne Petersen oferece um retrato abrangente das condições sociais e econômicas que moldaram a vida da geração Millennial desde os anos 80. A autora discute como essa geração desenvolveu expectativas irreais sobre o sucesso e o futuro, refletindo um choque entre aspirações e a realidade do mercado de trabalho.

Os Millennials, que incluem aqueles nascidos entre os anos 80 e meados dos anos 90, estão hoje na faixa dos 30 a 40 anos. Esta geração ingressou na vida adulta em um contexto repleto de promessas, principalmente com o advento da internet e a crescente inclusão social. Entretanto, esse quadro otimista logo foi confrontado com uma série de desafios.

Desigualdade entre expectativa e realidade

Petersen argumenta que, enquanto os Millennials tinham grandes expectativas sobre suas carreiras, a realidade deixou muitos se sentindo frustrados e esgotados. A frustração surge da discrepância entre o que se esperava ao completarem suas formações acadêmicas e o que, de fato, encontraram no mercado. Ao invés de estabilidade e sucesso, muitos se depararam com incertezas e uma pressão constante para se destacar.

O conceito de sucesso se transformou. Para os Millennials, ser bem-sucedido agora está ligado à realização pessoal e à paixão pelo trabalho. Antes, a ênfase estava na sobrevivência e na geração de renda. Essa mudança de foco gerou um sentimento de que o trabalho deveria ser não só uma fonte de sustento, mas uma fonte de satisfação pessoal.

A ilusão da educação como caminho seguro

Enquanto as gerações anteriores muitas vezes viam a educação apenas como um meio de garantir emprego, para os Millennials, um diploma parecia ser a chave para abrir portas. Entretanto, essa crença não se traduziu em realidade. Muitos se tornaram “currículos ambulantes” e ainda assim enfrentaram dificuldades para conseguir posições condizentes com suas qualificações.

A busca incansável por um currículo ideal resultou em experiências que não necessariamente levavam ao emprego dos sonhos. O trabalho voluntário e arranjos temporários se tornaram comuns, na esperança de que, eventualmente, essas experiências se convertessem em uma posição fixa. O que deveria ser uma estratégia de construção de carreira, muitas vezes transformou-se em um ciclo de exploração e insegurança.

A precarização do trabalho e suas consequências

Com a crescente precarização das relações de trabalho, muitos Millennials se viram forçados a aceitar empregos que não correspondiam às suas habilidades. A promessa de um futuro brilhante e gratificante esvaziou-se, à medida que o trabalho autônomo e as plataformas digitais se tornaram as únicas opções viáveis para muitos. Embora a autonomia seja atrativa, a falta de benefícios e a insegurança perpetuam um estado de estresse constante.

Essas circunstâncias em torno do trabalho resultam em um estado de burnout, onde as demandas do dia a dia parecem insuportáveis. Esse esgotamento muitas vezes se estende à vida pessoal, dificultando o equilíbrio entre trabalho, vida social e família.

O impacto das redes sociais na produtividade e no bem-estar

Com o crescimento das redes sociais, essa luta para se destacar se intensificou. A necessidade de mostrar produtividade e sucesso levou muitos a sentirem que devem estar sempre “presente”. Essa pressão para se comparar com os outros exacerbou a ansiedade, levando a um ciclo de autoexigência quase insuportável.

A visibilidade constante promovida pelas redes transformou a forma que os Millennials interagem com suas vidas. A autoimagem se torna um projeto, onde cada aspecto da vida deve ser cuidadosamente curado e apresentado de maneira atraente. Ao fazer isso, muitos acabam negligenciando o tempo de inatividade – essencial para recarregar as energias.

A nova parentalidade sob pressão

Além de gerenciar suas próprias pressões, muitos Millennials estão atravessando as complexidades da parentalidade. Cresceram cercados por padrões elevados de sucesso e agora são confrontados com as expectativas de criar seus filhos em um mundo sobe pressão semelhante. As comparações sobre a educação e o cuidado dos filhos se multiplicaram, aumentando a carga emocional que já enfrentam.

Ser pai ou mãe, enquanto lida com a pressão do trabalho e as expectativas de sucesso, também desencadeia um sentimento de inadequação. A comunicação constante com outros pais, por meio de grupos e redes sociais, pode intensificar essa pressão, criando um ciclo de comparação e insegurança.

Desafios na busca pelo equilíbrio e o papel da tecnologia

A superexposição e a incessante busca por resultados tangíveis fazem com que os Millennials demonstrem dificuldades em encontrar períodos adequados de descanso e lazer. Assim, as atividades que deveriam proporcionar alívio transformam-se em cobranças adicionais. A ideia de que cada momento deve ser útil pode acabar com o tempo livre genuíno, levando a uma relutância em desacelerar.

A tecnologia, que poderia servir como um meio de facilitar a vida, tem um papel contraditório. Ao permitir acesso constante ao trabalho e à informação, ela muitas vezes exacerba a sensação de estar sempre “ligado”. O desafio é encontrar um espaço para desconexão em um mundo que remunera a onipresença.

A luta contra a pressão social e a expectativa

Em diversos aspectos, a sensação predominante entre os Millennials é de que as expectativas que criaram para si mesmos são as verdadeiras vilãs do burnout. Não é apenas o estresse do trabalho ou a falta de oportunidades, mas a constante comparação e os padrões elevados que eles sentem a necessidade de alcançar.

Petersen propõe que a mudança de perspectiva sobre o sucesso e o valor do trabalho é essencial. É preciso reformular a ideia de que a produtividade é o único caminho para a realização pessoal. Isso requer um entendimento mais amplo do próprio bem-estar, que inclui descansar e recarregar as energias, sem sentir culpa por isso.

Perspectivas e possíveis caminhos

Embora os desafios sejam inúmeros, a conscientização sobre as consequências desse estado de burnout pode ser o primeiro passo. Para muitos Millennials, reconhecer que não estão sozinhos em suas lutas pode trazer um certo alívio. As conversas sobre saúde mental e equilíbrio entre a vida pessoal e trabalho estão se tornando mais comuns, e isso permite que construam redes de apoio.

Os Millennials têm a oportunidade de redirecionar suas trajetórias, priorizando não apenas a produtividade, mas também o autocuidado e a saúde mental. O desafio está em desacelerar em meio a um mundo que constantemente exige mais, mas isso pode ser um passo vital na criação de soluções mais saudáveis para o futuro.