Resenha do livro O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry: Uma Viagem pela Imaginação e Sabedoria

A obra, que celebra 80 anos em 2023 e passa de 250 traduções ao redor do mundo, ainda é cercada por controvérsias entre os que amam e os que odeiam

Resenha do Livro: O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, lançado em 1943

Considerado um livro infantil, O Pequeno Príncipe já foi uma fonte de riso quando figuras públicas, como candidatas a concursos de beleza, o citavam como sua obra favorita. Além disso, a história foi ridicularizada e sua seriedade foi questionada, sendo até acusada de ser autoajuda, com passagens utilizadas de maneira a distorcer seus significados originais, como a famosa frase “Você é eternamente responsável por aquilo que cativas”.

Assim, surge a pergunta: seria O Pequeno Príncipe, um dos mais traduzidos e lidos na história, um texto controverso?

As críticas, em sua maioria, parecem ser fundamentadas em trechos isolados tirados de seu contexto e em uma visão preconceituosa que cerca a obra desde sua criação. É interessante notar que, mesmo sendo um livro com ilustrações e um protagonista infantil, a profundidade de suas mensagens transcende a simples classificação como literatura para crianças.

A narrativa está repleta de metáforas e ironias que expõem as falhas dos adultos. Por meio da visão ingênua do Pequeno Príncipe, a obra critica comportamentos e valores que dominam o mundo adulto, revelando a busca por significados mais profundos na existência.

Origem do Pequeno Príncipe

Lançado em abril de 1943 em Nova York, O Pequeno Príncipe foi a última obra que Antoine de Saint-Exupéry publicou em vida. Antes disso, já tinha escrito quatro livros, todos inspirados em suas próprias experiências e reflexões sobre a vida.

Na época, o autor estava enfrentando um dos períodos mais obscuros da história, marcado por guerras e totalitarismos. A obra traz uma mensagem vital: incentivar os adultos a reconectar-se com a criança interior que ainda reside neles.

Exilado em Nova York, Saint-Exupéry começou a desenvolver a ideia do livro em uma conversa com seu editor, onde um desenho de um menino de cabelos loiros deu origem ao personagem central da história. Essa conversa resultou em um elogio ao valor da amizade e à pureza das relações.

Durante o verão de 1942, o autor se retirou com amigos e sua esposa, aproveitando o tempo para assumir a tarefa de criar O Pequeno Príncipe, onde as experiências de sua vida e os desafios que enfrentou no passado se tornaram a base para diversos personagens e eventos narrados.

A busca pelo sucesso

O que pode explicar o sucesso avassalador da obra? Tal vez a essência de encontrar significados nos questionamentos de uma criança. Ao decidir deixar seu planeta, o Pequeno Príncipe parte em busca de novas aventuras e de formas de vida diferentes. Essa parte da história, raramente discutida, carrega as maiores provocações.

Em suas visitas a outros planetas, o Pequeno Príncipe faz perguntas simples e diretas como: “O que é isso?” ou “Por que você age assim?” Essas indagações, carregadas de inocência, revelam a banalidade da vida adulta.

As respostas que recebe revelam a mediocridade das certezas e interesses dos adultos. O príncipe, em sua sabedoria infantil, observa e termina por concluir: “Os adultos são mesmo estranhos…”.

Seu último destino é a Terra, onde se depara com um mundo vasto e povoado, começando suas interações com novas amizades.

As amizades do Pequeno Príncipe

As interações que o Pequeno Príncipe faz ao longo do texto estão repletas de significados que vão além do superficial.

A rosa, seu primeiro grande amor, é uma figura complexa. Ela representa uma jovem que é caprichosa e que exige devoção total. O jovem, inexperiente, se vê preso a essas demandas e acaba se machucando.

O príncipe reflete: “Como as flores são complicadas! Mas eu era ainda muito jovem para saber amá-la.” Ambos, imaturos, lidam com a fragilidade das relações e a incompreensão sobre como amar o próximo.

Após suas viagens, ele chega à Terra e encontra a raposa, um personagem que traz uma lição valiosa sobre a amizade. A raposa, após ser admirada pelo príncipe, diz que ele deve primeiro “cativá-la”, ressaltando que as amizades levam tempo e esforço para serem consolidadas.

São essas experiências que fazem o príncipe entender não apenas a relação com a raposa, mas também a importância do amor por sua rosa.