Resenha de Livros Memórias Póstumas de Brás Cubas: Uma Análise Crítica da Obra-Prima de Machado de Assis

Machado de Assis, um dos maiores expoentes da literatura brasileira, presenteou o mundo com “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, uma obra que transcende o tempo e continua relevante até os dias atuais. Publicado originalmente em 1881, o romance quebrou paradigmas ao apresentar um narrador defunto, Brás Cubas, que relata sua vida sem pudores ou constrangimentos, aproveitando-se da liberdade que só a morte pode proporcionar.

O romance se destaca por sua narrativa inovadora e pela profunda crítica social que Machado de Assis tece ao retratar a elite brasileira do século XIX. Através das memórias de Brás Cubas, o autor expõe as contradições e assimetrias da sociedade brasileira da época, formada por um grupo privilegiado que se relacionava entre si, perpetuando seus modos de pensar e agir às custas das camadas mais humildes da população, especialmente os negros escravizados.

A obra de Machado se diferencia dos romances de costume da época, que geralmente descreviam o cotidiano do Rio de Janeiro de forma mais superficial. Em vez disso, o autor opta por uma abordagem mais profunda, explorando as nuances psicológicas dos personagens e as complexidades das relações sociais. Através da ironia e do sarcasmo, Machado critica sutilmente temas sensíveis como o racismo e a desigualdade social, que infelizmente ainda ecoam na sociedade brasileira contemporânea.

O protagonista, Brás Cubas, é retratado como um homem branco, culto e pertencente à elite brasileira do século XIX. Sua trajetória é marcada por uma série de frustrações e oportunidades desperdiçadas, resultado de sua falta de autocrítica e da crença de que merecia mais do que realmente conquistou. Essa caracterização serve como uma alegoria para a própria elite brasileira da época, egoísta e carente de autocrítica.

Um dos aspectos mais notáveis da obra é a forma como Machado aborda questões raciais. Embora tenha sido criticado por alguns por uma aparente neutralidade frente à escravidão, uma leitura mais atenta revela críticas sutis e perspicazes ao racismo estrutural da sociedade brasileira. O capítulo “A Borboleta Preta”, por exemplo, serve como uma metáfora poderosa para a discriminação racial.

A narrativa de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” não apenas entretém, mas também provoca reflexões profundas sobre a condição humana, a moralidade e o legado que deixamos após a morte. Machado de Assis convida o leitor a questionar suas próprias ações e motivações, assim como a sociedade em que vive.

A genialidade de Machado de Assis reside em sua capacidade de criar uma obra que, embora situada no século XIX, mantém-se relevante e provocativa até os dias de hoje. Sua crítica à sociedade brasileira, às estruturas de poder e aos privilégios de classe continua ressoando com os leitores contemporâneos, o que explica a permanência de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” como uma das obras mais importantes da literatura brasileira.

Em suma, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” é uma obra-prima que transcende seu tempo, oferecendo uma análise perspicaz da sociedade brasileira e da natureza humana. Através da vida medíocre de Brás Cubas, Machado de Assis nos apresenta um espelho no qual podemos ver refletidas as contradições e falhas não apenas da sociedade do século XIX, mas também da nossa própria. É uma leitura essencial para quem busca compreender a literatura brasileira e as raízes dos problemas sociais que ainda persistem no Brasil contemporâneo.