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Resenha do Livro A Outra Garota Negra de Zakiya Harris: Uma Reflexão Impactante sobre Identidade e Amizade

Resenha do Livro A Outra Garota Negra de Zakiya Harris

Uma narrativa de tensão, obsessão e desconfiança que explora questões como privilégio, raça e gênero em estruturas de poder predominantemente brancas

Crítica ao Livro: A Outra Garota Negra, por Zakiya Dalila Harris, tradução de Flávia Rössler e Maria Carmelita Dias, publicado pela editora Intrínseca, em 2021

Quando um possível aliado se transforma em adversário, sentimentos de desilusão ou desejo de retaliação emergem.

Nella Rogers, a protagonista, é uma assistente editorial negra no contexto de uma grande editora. Ela é dedicada e trabalha arduamente, mas enfrenta limitações impostas por preconceitos raciais e de gênero. Seu ambiente, majoritariamente formado por pessoas brancas e privilegiadas, faz com que a luta por igualdade social seja um aspecto central de sua vida. Nella é também uma ativista contra o racismo, acreditando que estar naquele espaço já representa uma conquista significativa, apesar dos desafios.

O livro, que marca a estreia literária de Harris em 2021, traz uma trama envolvente de suspense e thriller psicológico. A autora habilidosamente coloca o leitor em um mundo onde a desconfiança prevalece e todos podem ser considerados suspeitos. Por meio de uma narrativa astuta, as questões de racismo, misoginia, manipulação e avareza são apresentadas de maneira incisiva.

Dinâmicas sociais e autoestima

As microagressões diárias que Nella enfrenta, ao lidar com preconceito e discriminação, moldam sua adaptação ao meio. Apesar de ser consciente das estruturas de poder dominadas por uma elite branca, ela acredita que estar naquela posição é, de certa forma, especial. Compreendendo que a estabilidade é frágil, ela hesita em apontar as injustiças cometidas pela sua chefe, optando por permanecer em silêncio e demonstrar gratidão pelo emprego.

Quando momentos de coragem surgem, Nella tenta dialogar sobre suas necessidades, mas muitas vezes acaba aceitando condições subordinadas, já que ainda não conquistou um espaço sólido dentro da editora. Sua grande ambição de um dia ser reconhecida e promovida é constantemente abalada pela sensação de estar estagnada.

A solidão e a insegurança se intensificam até que a chegada de outra funcionária negra, Hazel, traz uma nova esperança. Nella imagina ter encontrado uma parceira que compreende suas lutas em um ambiente dominado por brancos. No entanto, as coisas logo tomam um rumo inesperado.

A nova colega, embora semelhante em aparência, escolhe uma abordagem diferente para lidar com a dinâmica de poder. Hazel se adapta, frequentemente ocultando suas próprias crenças e opiniões enquanto se alinha aos interesses dos superiores. Sua confiança a leva a conquistar rapidamente o que Nella sonhava em obter.

A trama traz uma reviravolta significativa, explorando como a autoestima e autoconfiança são afetadas pela convivência em um ambiente tão hostil. Um clima de mistério se instala, permeado por cartas ameaçadoras e uma sensação de perigo iminente.

Simbolismos e questões profundas

Harris utiliza um elemento simbólico central: uma pomada para cabelo. O cuidado capilar entre pessoas negras é apresentado como um aspecto crucial e o uso impróprio de produtos pode resultar em complicações. A pomada, chamada “Amaciada”, é descrita como uma solução milagrosa que, ironicamente, promove comportamentos submissos nas usuárias.

O significado dessa pomada levanta questionamentos sobre como manipulações podem encontrar caminho através de características muito pessoais e sensíveis. A história também intercala eventos do passado, onde heróis tornam-se vilões e injustiças surgem, em uma teia de suspense que mantém o leitor intrigado até o fim.

Uma crítica disfarçada de suspense sobre racismo

A narrativa revela o racismo sob diferentes ângulos, desde a superficialidade da diversidade em ambientes de trabalho até as renúncias exigidas por causa desse mesmo ambiente. Nella enfrenta estresse e solidão, ao ser continuamente incompreendida por colegas que, sem intenção, perpetuam microagressões racistas.

A autora destaca também a individualidade dos personagens, colocando duas mulheres negras em conflito, contrariando a noção de que todas deveriam ser amigas por conta de sua raça. Essa abordagem demonstra que cada um possui seu próprio caráter e modo de agir.

Outro ponto interessante é a relação interracial de Nella com um homem branco. O relacionamento se torna uma plataforma para aprendizado mútuo e enfatiza a importância do papel das pessoas brancas na luta contra o racismo.

A leitura é cativante desde o início, alternando narradores e tempos, mantendo um nível de suspense marcado por reviravoltas emocionantes. O livro provoca reflexões sobre o racismo e suas manifestações sutis, revelando uma crítica social importante sob a forma de um thriller psicológico.

É uma obra que instiga e desafia o leitor a refletir sobre sua posição no mundo e na sociedade, tornando-se uma leitura essencial para compreender as complexidades do racismo no contexto contemporâneo.

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