Resenha do livro Infinito em um Junco de Irene Vallejo: Uma Viagem pela História da Escrita

Uma narrativa envolvente escrita por uma apaixonada pelos livros e pela leitura, sobre a origem dos livros, que faz cada leitor se apaixonar também.

Confira a análise do trabalho “Infinito em um Junco”, de Irene Vallejo, traduzido por Ari Roitman e Paulina Wacht, lançado pela Intrínseca em 2022.

“Infinito em um Junco”, originalmente publicado na Espanha em 2019, encontrou seu lugar nas estantes brasileiras em 2022. Esta obra se destaca como essencial para amantes das letras que desejam descobrir a origem e a história dos livros.

Com mais de 600 mil cópias vendidas no idioma original e traduzido para 35 idiomas, o sucesso é reconhecido por Irene Vallejo, que expressou sua surpresa durante uma entrevista no programa “Conversa com Bial”. Desde criança, ela foi envolvida por histórias, com seus pais adaptando narrativas para torná-las pessoais e significativas.

Ela declarou que, mesmo não sendo a mesma menina de antes, escreve para dar vida a histórias que nunca devem acabar. Para Irene, cada palavra é uma conexão de sonhos e lembranças. Ela se sente parte de uma tradição em que mulheres sempre contaram histórias, mantendo vivo um fio de encantamento.

Através de sua obra, Vallejo consegue fazer o leitor sentir-se como um participante de uma roda de histórias, onde suspense e revelações se entrelaçam.

Vida longa aos livros! E a Irene com sua forma encantadora de nos contar histórias.

O principal tema do livro é a origem do livro, mas Irene não se limita a isso. Ela presenteia o leitor com uma rica narrativa que também é uma aula de história sobre as primeiras civilizações, seus métodos de governança e suas interações sociais.

Com uma linguagem acessível, ela transforma informações teóricas em uma leitura cativante, repleta de ritmo e humor. A autora leva o leitor a uma jornada pela Grécia e Roma antigas, criando um clima de aventura e curiosidade.

Ela descreve a busca por livros de forma tão vívida que é impossível não imaginar o espanto das pessoas diante dos forasteiros a cavalo que procuravam essas preciosidades. É impossível não rir e refletir ao acompanhar suas descobertas e ironias, como se algumas situações humanamente problemáticas fossem atemporais.

Além disso, os diferentes livros mencionados ao longo da narrativa inspiram a curiosidade e o desejo de aprender mais, ampliando a lista de leituras futuras.

Explorando a evolução dos livros, Vallejo destaca que “os livros são descendentes das árvores, que foram lar da nossa espécie e, talvez, o mais antigo receptáculo das palavras escritas”. Desde as narrativas orais até a transcrição por símbolos, ela apresenta uma jornada por diversos suportes de escrita: das pedras ao papiro, do pergaminho ao papel.

Vallejo também menciona as primeiras profissões relacionadas aos livros – escritores, bibliotecários e livreiros – além das barreiras sociais que condicionavam o acesso à leitura. O fato de que, sem prensas, a reprodução dos textos era manual, demandando grande esforço, é um aspecto curioso. Esse trabalho ficava frequentemente nas mãos de prisioneiros de guerra, em um mundo onde a capacidade de ler e escrever era restrita a poucos.

Quando a humanidade começou a registrar seus pensamentos, histórias e conhecimentos, o progresso tornou-se mais acessível. Essa invenção permitiu que as pessoas se conectassem com os pensamentos dos mortos e, assim, compreendessem realidades e culturas diferentes.

Os livros trascendem o entretenimento, exercitando nossa crítica e empatia, além de desenvolverem nossa capacidade de articular ideias e emoções.

O aforismo romano “os livros fazem os lábios” encapsula a importância dos livros na formação de uma sociedade crítica e democrática. Porém, essa relevância também os tornou alvos de censura, com relatos de perseguições desde os tempos antigos.

A formação das bibliotecas, por sua vez, não só preservou os livros, mas também promoveu o acesso ao conhecimento. Esses espaços tornaram-se vitais para a disseminação das ideias.

Por outro lado, a fragilidade dos livros não se limita ao material de que são feitos, mas se expande para as ameaças e censuras que enfrentam ao longo da história. Para alguns pensadores, como Sócrates, os livros eram vistos como ameaças à memória, fazendo com que o conhecimento se tornasse algo externo e não interiorizado.

Livros sempre foram carregados de símbolos que geravam desconfiança. Quando conveniente, eram considerados maravilhas; em outras situações, eram vistos como ameaças que precisavam ser eliminadas.

A censura trouxe à tona as lutas pelo controle do conhecimento, frequentemente nas mãos de autoridades políticas ou religiosas que viam os livros como um risco à ordem estabelecida. O resultado foi a queima de réplicas e a proibição de bibliotecas, gerando um ciclo de silêncio e controle.

Neste vivenciar da história dos livros, é marcante o quanto eles não apenas sobreviveram, mas também evoluíram em meio a desafios e adversidades. Irene Vallejo nos convida a refletir sobre a permanência e a ontem de um universo que, sem dúvida, ainda é contemporâneo e vibrante.